quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Quase Delírio (Cont.)

São Luís, 20 de agosto de 2009


O RELÓGIO CONTAVA 08h19min QUANDO ACORDEI sentindo frio; levantei-me num sobressalto e, confuso, dirigi-me até a janela que estava entreaberta. Pela brecha olhei a névoa que se apresentava como uma má notícia e esbranquiçava todo o panorama a minha vista.
Planejara no dia anterior, fazer um passeio na praia no período da manhã, mas fazia frio demasiado e a bruma era por de mais espessa – não podia eu ver três metros a minha frente.
Deixei o quarto e, acompanhado pelos meus velhos tios, fui tomar café. Enquanto enchia a xícara e cortava o pão, ouvia a conversação que fluía entre os senis: “Parece que hoje vamos ter um dia daqueles, disse o velho, não demorará pra que os jornais nos deixarem alertados sobre o perigo que trás a névoa; ultimamente têm-se notícias de vários furtos e assassinatos por estes lados da cidade.” “Já deveria ter trocado as fechaduras, meu velho – disse a velha – todo cuidado é pouco para a segurança da casa. Ainda bem que fizemos compras ontem, pois eu não arredo o pé de casa hoje, tenho muito medo de delinqüentes (...)”

Fiz-me atento a conversação e entristeci-me com a situação do tempo, pois planejara reencontrar a todos quem eu prometi voltar quando no passeio de outrora pela praia: “Voltarei amanhã, Natureza. Voltarei amanhã, navios. Voltarei amanhã, moça. Amanhã.”Senti-me angustiado por toda a manhã, pois o fato de não poder cumprir a promessa de voltar à praia me causava tristeza e desagrado. Passei o horário de almoço perto da janela de vidro, na sala, vendo um fino chuvisco se apresentar.
Enquanto os pingos de chuva embaçavam a vista da janela e trazia com ela mais angustia a minha pessoa, eu refizera, em mente, o passeio de outrora; como um sonho: vieram-me as imagens que se via de cima das dunas naquele momento: as silhuetas dos navios no horizonte distante; o contorno das pessoas que por lá passavam; a moça sentada na areia (Ah! Aquela moça).
À tarde assuntei com meu velho tio coisas sobre o tempo e periculosidade. O velho falou-me dos crimes que em dia de névoa aconteceram ali perto e outra série pormenores que não porei no texto pra não alongar a escrita.
Importunara o tio com vários questionamentos.
A velha trouxe biscoitos e chá pra mim e para o velho; éramos quietos enquanto ceávamos. Depois de uma longa pausa, meu tio alertou-me do perigo dizendo-me que melhor seria que eu ficasse em casa neste fim de tarde, pois dessa forma estaria eu em segurança. Tal coisa dita pelo velho me deixou entristecido. Como poderia eu quebrar uma promessa tratada como dívida? O que pensariam de mim os navios? Perdoar-me-ia a natureza? E a moça (A moça! A moça!) que já era dona dos meus pensamentos, perdoar-me-ia?
Senti-me destroçado. O tédio chegara junto com o fim de tarde. Deixei meus tios avisados de que me recolheria mais cedo ao quarto; iria me distrair em leitura, uma vez que não podia sai de casa.
Sentado na cama, olhei e torno de mim e nada vi pra que me pudesse distrair; logo a angustia de ser um mentiroso, a dor que me causava a o desapontamento da natureza para comigo, e o desprezo da moça, consumia-me os pensamentos; nada poderia me curar da aflição que sentira.
De súbito, depois de mirar por muito a janela, veio-me a idéia de fazer tal passeio em segredo. Foi o que fiz sem hesitar. Com poucos minutos eu já estava cruzando as ruas dos enormes casarões que se escondiam atrás de muros longos, com as roupas e os cabelos umedecidos pela chuva fina. Cruzara a avenida já encharcado e, enfim, as dunas. Caminhava eu, lentamente, por sobre a areia molhada. Do alto das dunas, com dificuldades, só enxergava névoa. Difícil era ver o horizonte, só se escutava o barulho das ondas. O frio aumentara e eu não conseguia me locomover a outro lugar, permanecia nas dunas sem esperança de ver alguém por perto.
Os navios eram escondidos na bruma; a natureza era camuflada na penumbra que chegava com a tardinha; a moça... Ora, a moça não teria uma infeliz idéia de passear naquelas condições de tempo. Só um louco que caminha como um errante atordoado por uma promessa que caminha pelas ruas em meio tanta neblina, desafiando o perigo. Afastei a manga da camisa e olhei o relógio que contava 17h52min, tornei a cobri-lo e suspirei.
Tido como um louco por mim próprio, atordoado, fiz, com dificuldade, uma descida duna abaixo até a praia. No caminho, avistei a pedra onde eu sentava outrora; e, a alguns metros dali, o lugar onde sentara a moça, vazio. Sem conseguir meditar por perturbação causada pela aflição que me causara a revolta de não vê-la, caminhei até chegar a um ponto onde eu podia ver o quebrar das ondas; deixei-me molhar os sapatos e pus-me a meditar: “Só tu, natureza, fez-se presente a mim em meio tanto frio e tanta bruma, e com tuas águas alegrou-me a tocar meus pés.” “Ó Moça que me causou febre, será mesmo que aquele segundo olhar significou o arrependimento”? “Pois se for bem verdade isso que me atormenta...”
Cessei a meditação, pois fui interrompido por rumores de vozes atrás de mim. Um estranho sentimento me dividia entre o medo e a ansiedade. Eu era paralisado como um espantalho e me fiz cauto a filtrar os sons que se misturavam: o quebrar das ondas e as vozes. Permaneci na mesma posição e notei que as vozes cessaram; somente o mar produzia sons nesse momento. Durou o ócio. Inesperadamente senti um toque no meu ombro e um "olá"; era uma voz feminina...



Continua

4 comentários:

Paula disse...

tinha um comentário em mente, mas quando vi o final, tudo mudou! rs..
to adorando esse conto e que bom que tem continuação!
enfim, comento melhor dps :)
e que venha a moçaaaaaaa! rs

Anna Vitória disse...

Ah, meu Deus, quero saber o resto!
Seu texto tá realmente ótimo.
Beijos

Samyle Lindsay disse...

Tô amando tudoo!!
Amo contos!

Tô esperando
a n s i o s a m e n t e
a continuação!

Escreve logo um livro, cara!
:D

Beeijo ;*

Lorrayne Lindsay disse...

ainda bem que tem continuação.
Me deixou nervosinha aqui com o final, rs!
Tô adorando esse conto =D