segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Quase Delírio

São Luís, 15 de Agosto de 2009



O passeio

AQUI é tão ruim pra você, sobrinho ― disse minha tia velha enquanto cosia sem tirar os olhos da agulha ― não há pessoas da sua idade pra conversar. Entristeço-me ao ver-te ai, desanimado. Por que não vai até a praia? Vá, meu filho! Caminhar um pouco pode ser uma boa distração.”
Dito isso, o velho, sentado na sua poltrona, ouviu a proposta da velha para com o sobrinho e fez gesto de aprovação com a cabeça, enquanto o fumo fazia passagem por entre os lábios e dava peso na atmosfera da sala. A princípio, achei péssima idéia fazer uma caminhada até a praia, aliás, sozinho, seria triste o bastante pra aumentar minha angustia de estar entre pessoas velhas e silenciosas. Mas entre ficar em casa vendo o velho tio lê jornal e fumar cachimbo e a velha tia coser, optei por ir a praia sozinho. Ao sair de casa, fiz uma serena caminhada ― A distância entre a casa dos velhos tios até a praia não era o suficiente para causar dor nas pernas; quiçá, meditar. Durante a caminhada, andei por ruas estreitas, arborizadas. As casas eram, em maioria, escondidas por trás de grandes muros. Cruzei duas largas avenidas e, finalmente, cheguei à praia. Ao contemplar o mar, mudei, subitamente, o juízo de que seria uma viagem perdida e sem bel-prazer; logo, o cenário a minha frente era-me deslumbrante (Quiçá o mais da minha vida): O mar era sereno e alaranjado por causa dos raios de sol que perfurar uma enorme nuvem, como enormes flechas ― fato este que formava uma coisa que a arte tenta retratar: um espetáculo de luzes e sombras ― as silhuetas dos navios enfileirados no horizonte longínquo; o contorno das pessoas que caminhavam a beira-mar. Durava a minha contemplação de todo esse panorama. Meu olhar se dividia entre o pôr-do-sol, os navios e uma moça que, a uns cinco metros de mim, estava sentada na areia. Esta parecia admirar também o que eu apreciava, sem se importar com o vento forte a agitar freneticamente os seus cabelos. O tempo passou mais rápido do que o vento. Chegara o crepúsculo quase sem eu perceber; e, junto com ele, o alerta. Levantei-me da pedra na qual estava sentado. Despedi-me, em pensamentos, da natureza, dos navios e da moça que ali permanecia quase imóvel, se não fosse pela agitação dos cabelos. Assegurei-lhos voltar: “Voltarei amanhã, Natureza. Voltarei amanhã, navios. Voltarei amanhã, moça. Amanhã.”Fiz menção de caminhar, mas a moça se fez notável a mim quando, subitamente, levantou-se, separou a areia do corpo e passou as mãos pelos cabelos. Parei para contemplá-la por mais alguns instantes. A moça, antes de ir embora, fitou-me por sobre o ombro, retirou rapidamente o olhar e seguiu caminho a ir-se embora. Com o olhar fixo, observei, por todo seu percurso, a jovem que sumia em meio a penumbra da tardinha. A moça, antes de sumir por completo, antes que eu curvasse o olhar, fitou-me novamente ― desta vez, ao contrario do primeiro, o olhar era demorado ― deu dois Passos e por fim sumiu por trás das dunas. No caminho de volta, amargurei um vazio que me trazia a dúvida e a saudade. Triste pela falta de costume de andar só. Enquanto caminhava, meditava: “Talvez aquele primeiro olhar da moça fosse uma promessa de voltar. Talvez aquele segundo olhar (Ah! O segundo olhar!) fosse à confirmação ou o arrependimento.” Antes de pegar no sono, em pensamentos, agradeci a minha velha tia.

6 comentários:

Lorrayne Lindsay disse...

ele voltou? e ela??

=/

rs!!

beijinhos

Anna Vitória disse...

Gostei, gostei muito.
Merece continuação, não?
Beijos

Samyle Lindsay disse...

Terá continuação...
Eu não vou ficar doida imaginando se eles voltal ou não.

shauhshuaushuahsuahsuahsuah

Excelente conto!

Beijos ;*

Paula disse...

Realmente, mais uma 'obra de arte' perfeita.
Faz a gente viajar e parar pra pensar o quanto as coisas simples da vida, são AS MELHORES.... *sighs*

vou te add nos meus links pra ficar mais fácil de voltar!

Obrigada pela visita tb ;)
Até!

Memória de Elefante disse...

QUE SERENA CAMINHADA! INSPIRADORA HEIM????

vieira calado disse...

Também passei para ler

e

deixar um abraço.