O passeio
“AQUI é tão ruim pra você, sobrinho ― disse minha tia velha enquanto cosia sem tirar os olhos da agulha ― não há pessoas da sua idade pra conversar. Entristeço-me ao ver-te ai, desanimado. Por que não vai até a praia? Vá, meu filho! Caminhar um pouco pode ser uma boa distração.”
Dito isso, o velho, sentado na sua poltrona, ouviu a proposta da velha para com o sobrinho e fez gesto de aprovação com a cabeça, enquanto o fumo fazia passagem por entre os lábios e dava peso na atmosfera da sala. A princípio, achei péssima idéia fazer uma caminhada até a praia, aliás, sozinho, seria triste o bastante pra aumentar minha angustia de estar entre pessoas velhas e silenciosas. Mas entre ficar em casa vendo o velho tio lê jornal e fumar cachimbo e a velha tia coser, optei por ir a praia sozinho. Ao sair de casa, fiz uma serena caminhada ― A distância entre a casa dos velhos tios até a praia não era o suficiente para causar dor nas pernas; quiçá, meditar. Durante a caminhada, andei por ruas estreitas, arborizadas. As casas eram, em maioria, escondidas por trás de grandes muros. Cruzei duas largas avenidas e, finalmente, cheguei à praia. Ao contemplar o mar, mudei, subitamente, o juízo de que seria uma viagem perdida e sem bel-prazer; logo, o cenário a minha frente era-me deslumbrante (Quiçá o mais da minha vida): O mar era sereno e alaranjado por causa dos raios de sol que perfurar uma enorme nuvem, como enormes flechas ― fato este que formava uma coisa que a arte tenta retratar: um espetáculo de luzes e sombras ― as silhuetas dos navios enfileirados no horizonte longínquo; o contorno das pessoas que caminhavam a beira-mar. Durava a minha contemplação de todo esse panorama. Meu olhar se dividia entre o pôr-do-sol, os navios e uma moça que, a uns cinco metros de mim, estava sentada na areia. Esta parecia admirar também o que eu apreciava, sem se importar com o vento forte a agitar freneticamente os seus cabelos. O tempo passou mais rápido do que o vento. Chegara o crepúsculo quase sem eu perceber; e, junto com ele, o alerta. Levantei-me da pedra na qual estava sentado. Despedi-me, em pensamentos, da natureza, dos navios e da moça que ali permanecia quase imóvel, se não fosse pela agitação dos cabelos. Assegurei-lhos voltar: “Voltarei amanhã, Natureza. Voltarei amanhã, navios. Voltarei amanhã, moça. Amanhã.”Fiz menção de caminhar, mas a moça se fez notável a mim quando, subitamente, levantou-se, separou a areia do corpo e passou as mãos pelos cabelos. Parei para contemplá-la por mais alguns instantes. A moça, antes de ir embora, fitou-me por sobre o ombro, retirou rapidamente o olhar e seguiu caminho a ir-se embora. Com o olhar fixo, observei, por todo seu percurso, a jovem que sumia em meio a penumbra da tardinha. A moça, antes de sumir por completo, antes que eu curvasse o olhar, fitou-me novamente ― desta vez, ao contrario do primeiro, o olhar era demorado ― deu dois Passos e por fim sumiu por trás das dunas. No caminho de volta, amargurei um vazio que me trazia a dúvida e a saudade. Triste pela falta de costume de andar só. Enquanto caminhava, meditava: “Talvez aquele primeiro olhar da moça fosse uma promessa de voltar. Talvez aquele segundo olhar (Ah! O segundo olhar!) fosse à confirmação ou o arrependimento.” Antes de pegar no sono, em pensamentos, agradeci a minha velha tia.
6 comentários:
ele voltou? e ela??
=/
rs!!
beijinhos
Gostei, gostei muito.
Merece continuação, não?
Beijos
Terá continuação...
Eu não vou ficar doida imaginando se eles voltal ou não.
shauhshuaushuahsuahsuahsuah
Excelente conto!
Beijos ;*
Realmente, mais uma 'obra de arte' perfeita.
Faz a gente viajar e parar pra pensar o quanto as coisas simples da vida, são AS MELHORES.... *sighs*
vou te add nos meus links pra ficar mais fácil de voltar!
Obrigada pela visita tb ;)
Até!
QUE SERENA CAMINHADA! INSPIRADORA HEIM????
Também passei para ler
e
deixar um abraço.
Postar um comentário