sexta-feira, 25 de setembro de 2009

QD (PARTE NONA)

São Luís, 25 de Setembro de 2009


O castigo

O TIO ESTABELECEU UM CASTIGO para o “fujão” (assim ele me chamava depois do feito aborrecedor), um castigo pueril, coisa que eu nem sequer bradei, pois lavar louça, cuidar do jardim, dar comida a um papagaio, lavar a camionete e outros pormenores, não me faria sentir tédio, eu até gostei dos trabalhos, só não gostei de quando ele me falou “E tudo isso sem ir a passeios na praia, até segunda ordem!”. Ai, leitor, esqueça que eu disse que não sentiria tédio, pois sem praia... E até a segunda ordem, por qualquer tempo que fosse, era muito. Tempo suficiente para eu sentir triplicar a culpa que sentia, pois Monise, se eu bem entendi aquela voz doce ao pé do meu ouvido, estaria por lá a me esperar, enquanto eu cá atribulado a lavar louças, a cuidar do jardim, a dar comida a um papagaio...


Dito e feito

DITO E FEITO: a culpa me consumia. E era passado só um dia de castigo. Nada de segundo ordem. Eu deitei a cabeça no travesseiro e pedi perdão a sardentinha; dormi com um aperto no coração, e acordei com a saudade no rosto que eu olhava no espelho do banheiro. Não se passava um minuto sequer sem que eu cogitasse o que Monise estava fazendo, se me esquecera, se sentia raiva, decepção, saudade... E já no segundo dia estava farto da solidão. À chegada da tardinha era pra mim motivo de tristeza, pois lembrava a minha serena caminhada pelas dunas. Eu nada fazia além de observar pela janela os movimentos da casa do vizinho e ouvir as conversações. Deixava-me estar no vão da janela a descansar os braços cansados de fazer as tarefas domésticas. Meus olhos eram fixos nos vultos da casa do lado; a cabeça, nas dunas. Com a chegada da noite, ia eu ter com os velhos até à hora do jantar. Ceávamos. Eu deixava-me estar na sala, quando os velhos se retiravam pra dormir. Folheava algumas revistas, olhava a rua pela janela da sala, sentava-me na poltrona do velho e fazia jus à tristeza olhando para nada, só para a imagem que era fixa nos pensamentos. E era triste assim, que eu ia direto pra cama.



O terceiro dia

Vi, pela janela do quarto, ao alvorecer, chegar uma neblina rala, pouco parecida com a do dia do último encontro com Monise. Fazia frio. Deixei-me estar na cama a meditar, até chegar à hora em que costumava levantar. No café da manhã, em companhia dos velhos, não fluiu assunto por tempo; mantinha o pensamento longe. Os velhos, de súbito, deram início a uma prosa, que não me fiz de interesse, nem se quer fazia questão de escutar os ruídos, pois eram sempre os mesmos assuntos, até parecia encenado. Depois do café da manhã a velha abria um armário, tirava as tralhas de coser e ia direto pra sacada se sentar na cadeira de balanço; o velho ia até a caixa de correios, tirava de lá o que tivesse, voltava pra sentar na poltrona e preparava todo o ritual de acender o cachimbo. Enquanto eu, sentado ainda a mesa do café da manhã, com olhos de vidro, mirava a xícara de café fumegante; enquanto isso uma mão segurando o queixo e a outra brincando com o pão. As tarefas do castigo eram feitas muito depressa, e bem feitas (segundo a velha); logo depois do meio-dia eu estava livre pra fazer o que quisesse, menos ir até as dunas.

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O primo Camilo (no próximo)

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3 comentários:

Samyle Lindsay disse...

Bem feito pro Leonel.
É bom ele ficar um pouco longe da Monise, já tava começando a ficar meio doido por ela.
E ela nem aí... é o que ele acha né.

:D

*continua, continuaa*

Anna Vitória disse...

Coitado do Leonel, daqui uns dias ele vai estar rasgando dinheiro.

Samyle Lindsay disse...

Atualiza, atualizaaa!
Escritor sempre gosta de fazer o leitor sofrer...
tsc tsc


:D